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Fernando Bezerra: ‘Lula é maior que o PT. Ele é um patrimônio político do povo’
Pupilo do governador de Pernambuco, o ministro da Integração Nacional defende o uso público da imagem do ex-presidente nas campanhas eleitorais
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, comanda uma das pastas mais poderosas da Esplanada dos Ministérios. Ele é o responsável pela transposição do rio São Francisco, pelo conjunto de ações bilionárias para mitigar os efeitos da estiagem nordestina e pelas obras de prevenção de resposta aos desastres naturais. Pernambucano de Petrolina, Bezerra foi acusado de usar o cargo para favorecer seu estado e o próprio filho deputado (Fernando Bezerra Filho) com emendas. Mas quando todos apostavam que ele cairia na esteira da chamada “faxina ética” da presidente Dilma Rousseff , ele sobreviveu e acabou se fortalecendo.
Hoje, Fernando Bezerra Coelho cumpre uma tarefa em Brasília que vai além do ministério. Ele tornou-se o interlocutor na delicada relação do Palácio do Planalto e do PT com o seu partido, o PSB. Nessa entrevista exclusiva ao Brasil Econômico , Bezerra Coelho garante que seu padrinho político, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos , estará na campanha pela reeleição de Dilma em 2014. Mas cobra do PT que a imagem dela e de Lulasejam de domínio público da frente que elegeu os dois e ajudou a manter a governabilidade.

Para o ministro Fernando Bezerra, imagem do ex-presidente Lula deve ser usada na campanha

Brasil Econômico: O PT vai deixar o PSB usar as imagens da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula na campanha do Recife?
Fernando Bezerra Coelho: O presidente Lula é muito maior do que o PT. Ele é um patrimônio político do povo brasileiro. É preciso haver mais compreensão em relação ao uso da imagem dele. Todos deveriam usá-la. Lula mudou a história do Brasil. Não acho correto que só o PT possa usar a imagem. Foi essa imensa frente política, na qual o PSB está inserido como protagonista, que deu sustentação política ao ex-presidente e à Dilma. Nós dos partidos aliados gostaríamos que houvesse uma compreensão mais generosa por parte do PT. Não é correto utilizar instrumentos legais para impedir o uso da imagem dele ou que Lula seja instrumento de ação política de um único partido. Mas é natural que ele escolha algumas cidades para participar.
Brasil Econômico: O ex-presidente Lula ficou muito chateado com a decisão do PSB de romper com o PT no Recife?
FBC: Não há rompimento. Estão dando muita ênfase aos desencontros no encaminhamento do processo eleitoral de Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. Não fizeram a leitura completa do jogos de alianças do PSB em 2012. Nós apoiamos o PT no principal colégio eleitoral do Brasil que é São Paulo. Estamos apoiando candidaturas petistas em mais de 100 cidades brasileiras. Eu refuto essa leitura de rompimento.
Brasil Econômico: Mas a relação entre e PSB e PT está hoje muito ruim.
FBC:  Tenho informações de que essa não é a leitura do ex-presidente Lula. Existe muita intriga e muita gente apostando no afastamento do PSB e do PT. Precisamos desinvenenar a relação. As intrigas são plantadas em colunas e notas nos jornais e na internet. Acredito que os dois partidos caminharão juntos por muito tempo na cena nacional.
Brasil Econômico: Na próxima eleição?
FBC:  O processo de construção dessa frente política vem de muito tempo. Creio que o PSB e o PT estarão juntos em 2014. Após o período eleitoral, a relação de amizade permanecerá tão boa quanto sempre foi. O PSB chegou a ter candidato à presidência da república e nem por isso rompeu com o PT depois da eleição.
Brasil Econômico: Como explica o rompimento do PT com o PSB em Belo Horizonte?
FBC:  Isso é fruto do processo político. Houve um esforço pelo entendimento lá e também em Recife e Fortaleza. Por mais importantes que sejam essas capitais, as eleições não são mais importantes do que o projeto nacional liderado pela presidenta Dilma.
Brasil Econômico: Quem transfere mais voto no Recife: Lula, Dilma ou Eduardo Campos?
FBC:  Em Recife muitos querem forçar a disputa entre Lula e Eduardo Campos. Vão quebrar a cara. A disputa é entre Humberto Costa e Geraldo Julio. Eduardo e Lula estão no mesmo palanque nacional e comungam do mesmo projeto. Quem apostar na intriga e no envenenamento das relações vai se dar mal.
Brasil Econômico: O PSB está bem representado hoje na Esplanada dos Ministérios?
FBC:  Todo partido deseja ter um protagonismo maior. Mas quem define os espaços no governo é a presidente da república. Nós temos o espaço que ela julga necessário para que o PSB continue animado em ser o aliado que é.
Brasil Econômico: O sr. mudou o título de eleitor de Petrolina para Recife para ser candidato à prefeitura. Por que mudou de ideia?
FBC:  A gente queria mesmo era construir um consenso em Recife, mas isso não foi possível. Nosso partido está bem consolidado nas regiões do sertão e do agreste, mas havia um desejo do PSB de ter uma presença maior na região metropolitana do Recife. Queríamos mais expressão junto ao eleitorado urbano. Além disso, havia na capital uma sinalização de candidaturas múltiplas da frente popular.
Brasil Econômico: Quando o sr. desistiu da disputa?
FBC:  Lá por abril, o governador Eduardo Campos optou por caminhar junto com a candidatura do Maurício Rands, do PT. Ocorre que essa alternativa não logrou êxito em função da prévia interna deles. Então ocorreram alguns desentendimentos.
Brasil Econômico: E isso levou os dois partidos a saírem separados?
FBC:  O PT e o PSB estão momentaneamente afastados em Recife, mas existe um clima de compreensão da importância de se preservar essa aliança em nível nacional. Queremos continuar dando sustentação ao governo da presidente Dilma Rousseff. Nossa perspectiva é ajudar na reeleição de Dilma.

Para o ministro da Integração Nacional, o governador pernambucano, Eduardo Campos, tem compromisso com Lula para 2014

“Campos tem compromisso com Dilma para 2014”
O ministro mudou o título de eleitor de Petrolina, sua base eleitoral, para Recife. O objetivo era que ele disputasse a eleição na capital, mas o governador mudou de ideia. Braço direito e esquerdo do governador pernambucano Eduardo Campos, o ministro garante que, apesar dos atritos entre PT e PSB, ele não tem planos de disputar o Palácio do Planalto em 2014. Quando o assunto é a sucessão estadual, Bezerra desconversa.
Brasil Econômico: O governador Eduardo Campos concorre à Presidência em 2014?
FBC:  Ele nunca me revelou essa vontade. Também não fizemos qualquer debate nesse sentido dentro do partido. O governador tem compromisso com a presidente Dilma Rousseff. Mas é evidente que o PSB busca se fortalecer disputando importantes prefeituras de capitais em todas as regiões do Brasil. Estamos trabalhando para o partido crescer. Queremos que o PSB tenha mais protagonismo dentro da aliança de sustentação ao governo.
Brasil Econômico: O senhor é pré-candidato a governador de Pernambuco em 2014?
FBC:  Está cedo. Vamos deixar passar as eleições municipais. Conversaremos sobre o quadro de 2014 quando ele estiver mais próximo.
Brasil Econômico: O PSB apoiará a candidatura do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB) à presidência da Câmara ou formará um bloco alternativo com o PSD?
FBC:   Tenho conversado muito com o deputado Henrique Eduardo Alves. Defendo que o PSB apoie a candidatura dele. Mas essa discussão terá que passar pela nossa bancada, que ainda não se posicionou. Seria melhor para o PSD não criar nenhum tipo de dificuldade sobre esse entendimento que já existe entre PT e PMDB.
Brasil Econômico: Bancadas do Norte e Nordeste no Congresso têm apresentado demandas ao governo federal para que a Integração Nacional inclua mais projetos de logística na região. O que acha dessa demanda?
FBC:  A infraestrutura logística é um dos temas centrais das conferências estaduais e da conferência nacional, realizada pelo Ministério da Integração Nacional, para debater o desenvolvimento regional com apoio da academia, de governadores, prefeitos e entidades civis. A proposta apresentada pelo Coseplan qualifica ainda mais este debate, criando novos eixos de geração de emprego e renda. Dentre os projetos apresentados, destacamos a ligação da Transnordestina com a Centro Atlântica e com a Norte-Sul e a ampliação da rede de fibra ótica na região.
Brasil Econômico: Em que momento o senhor acha que o candidato do PSB no Recife vai decolar nas pesquisas?
FBC: Estamos animados com o clima que percebemos nas ruas do Recife. Com a TV, nosso candidato, que é o menos conhecido da população, será apresentado à população. Tenho a impressão que ele vai crescer de forma consistente.
Brasil Econômico: Acha que ele foi intransigente no Recife ao não abrir mão da candidatura e rachar o PT?
FBC: João da Costa não teve a administração aprovada. Isso inviabilizou a tentativa dele de se reeleger. Mas ele não teve uma vida fácil como prefeito.
Brasil Econômico: O senhor já foi do PDS, PFL, PMDB e PPS. Hoje está no PSB. Por que mudou tanto de partido?
FBC: O motivo foi a minha formação política. Comecei no contexto da minha família. Nossa maior liderança era o senador Nilo Coelho, que era do PDS. Então em 1982, na primeira eleição, fui candidato a deputado estadual pelo PDS. Na sequencia houve o movimento que transformou o PDS em PFL. Depois a gente migrou para o PMDB. Essa foi uma história longa. n P.V.

Fernando Bezerra diz que denúncias envolvendo seu nome, que quase o derrubaram do governo, foram ‘infundadas’

“As denúncias contra mim foram desproporcionais”
Acusações de favorecimento da Integração Nacional ao Pernambuco e ao próprio filho, que é deputado, quase derrubaram o ministro.
Brasil Econômico: O senhor foi acusado de favorecer seu filho, que é deputado, com emendas. E de favorecer seu estado, Pernambuco, com recursos de prevenção de desastres naturais. Como explica isso?
FBC: As coisas foram esclarecidas. Estávamos vivendo um momento de muito denuncismo. Aquelas matérias publicadas foram exageradas. Era como se nós estivéssemos destinando recursos sem justificativa. Nós liberamos R$ 20 milhões para a construção da barragem de Serra Azul, no interior de Pernambuco. Aquelas denúncias foram desproporcionais. Era importante fazer uma ação preventiva contra as enchentes que destruíram muitas cidades na região da mata sul de Pernambuco. As ações tiveram fins políticos.
Brasil Econômico: Quais era os fins políticos das ações?
FBC: Não quero julgar. Eu não estava privilegiando ninguém ou destinando recursos sem justificativa.
Brasil Econômico: Em que ritmo estão as obras de transposição do Rio São Francisco?
FBC: Nossa previsão é terminar a obra no fim de 2014. Estamos muito animados com essa perspectiva. Estamos com 40% da obra concluída. Temos hoje 4.200 trabalhando na obra. Entraremos em 2013 com toda extensão dos canais contratados.
Brasil Econômico: A tragédia da Região Serrana aconteceu na virada de 2010 para 2011. Estamos caminhando para o fim de 2012 e até hoje os moradores reclamam que estão vulneráveis. De quem é a culpa?
FBC: O governo investiu recursos expressivos para melhoria da estrutura de prevenção da Região Serrana. Transferimos R$ 48 milhões para o governo do Rio. Daqui a seis meses a situação será melhor.
Brasil Econômico: Eu estive recentemente na região, e não vi tantas obras sendo feitas…
FBC: Nós repassamos R$ 60 milhões para atender os municípios.
Brasil Econômico: Eles estão usando mal esses recursos?
FBC: Tivemos problemas com alguns municípios na aplicação de recursos.

Ministro é responsável pelo “Bolsa Estiagem”
O ministro da Integração Fernando Bezerra Coelho faz parte de uma família tradicional na política de Petrolina, onde foi prefeito. “Nossa maior liderança era o senador Nilo Coelho, que era do PDS”, conta. Depois de ser eleito deputado estadual em 1982 pelo PDS, migrou para o PMDB. “Havia uma relação de amizade entre meu pai, meu avô e Miguel Arraes. Ele foi eleito deputado estadual pela primeira vez em 1950 com apoio de meu avô, Fernando Bezerra, que era prefeito de Uricuri”. Já no PSB, ele foi candidato em 1998 a vice-governador na chapa de Miguel Arraes, que acabou perdendo para Jarbas Vasconcellos. Em 2014, Bezerra será o candidato de Eduardo Campos ao governo.
Seca
No ministério, Bezerra coordena o bilionário pacote de investimentos contra os efeitos da estiagem nordestina. “Segundo avaliação de órgãos de previsão de clima e tempo, essa é a maior estiagem dos últimos 40 anos. As estimativas de perda na renda agrícola são de R$ 12 bilhões. Em algumas culturas, como o milho, as perdas são de 80%”. O pacote do governo começou a ser implementado em junho e alcançou um volume de investimento R$ 2,7 bi. “Abrimos um crédito emergencial de R$ 1 bi. Mais de R$ 500 milhões já foram contratados. Setores de comércio, indústria e serviço das cidades afetadas pela estiagem foram atendidos. Eles podem contratar empréstimos de até R$ 100 mil, dependendo do porte do empreendimento”. Os recursos são do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE). “O Bolsa Estiagem paga R$ 400 para agricultores familiares que não são atendidos pelo “Garantia Safra”. Estimamos que 500 mil pequenos produtores rurais receberão a bolsa”

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