Novos games pernambucanos em fase de desenvolvimento

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O mercado de games no Brasil cresce a cada dia. Dados do último Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, divulgados em junho, mostram que, nos últimos cinco anos, o número de estúdios de desenvolvimento de games no País passou de 142 para 375. Pernambuco segue a tendência nacional de expansão, com um número cada vez maior de empresas do tipo. Essa indústria pode vir a crescer ainda mais dentro do Estado, graças à incorporação do setor entre as categorias do Funcultura Audiovisual, edital promovido pela Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE), que selecionou três projetos de jogos eletrônicoslocais.

Anunciados no mês de julho, os vencedores receberão o incentivo de cerca de R$ 50 mil, cada um, para tirarem suas propostas do papel no prazo de um ano. Um dos contemplados é o game “Não tenho uma arma”, adaptação de uma HQ homônima de autoria do quadrinista pernambucano Roger Vieira. O projeto transmídia está sob o comando do designer de jogos Danilo Freire.

“Adaptar o quadrinho dá uma perspectiva mais artística e cultural ao nosso trabalho. Era o que eu vinha procurando. A gente tem uma visão mais tecnológica sobre a mecânica e funcionalidade da coisa, mas a participação de um artista nos permite explorarmos melhor os sentimentos”, afirma Danilo.

Para Roger, a transformação de sua obra em jogo digital permite atingir outros públicos. “O quadrinho independente é um produto muito de nicho. Já o game é uma mídia mais de massa. Através dele, pessoas que não têm o hábito de ler quadrinhos podem acabar se interessando e procurando o livro”, defende o desenhista. De acordo com os produtores, o jogo ainda está no estágio inicial de desenvolvimento. Roger participa como diretor artístico do projeto.

“Está sendo um processo bem desafiador. No nosso trabalho, geralmente, partimos de uma mecânica para, depois, pensarmos na narrativa. Dessa vez, o caminho é reverso. Temos uma narrativa pronta, que é a da HQ. Precisamos, agora, idealizar a interação com o jogador”, aponta Danilo.

Também trabalham na construção do game Antônio Rivero, Marconi Madruga, Erika Ferreira e Renato Skhar. Quando tiver finalizado o projeto aprovado pelo Funcultura, a equipe terá em mãos uma versão inicial do game. A ideia é ir atrás de outros investidores, que possam ajudar a expandir e aperfeiçoar o produto.

Outra proposta transmidiática selecionada pelo edital é o jogo “Desafio Além da Lenda”, baseado na série de animação pernambucana “Além da lenda”. O desenho animado produzido pela Viu Cine será transportado para o universo das aventuras digitais pelo estúdio Manifesto Games. Produtor executivo da empresa, Túlio Caraciolo explica que o game será um RPG – tipo de jogo em que os jogadores assumem um papel em um cenário fictício – voltado para o público infantil.

“A história é contada por meio de missões. Em cada uma delas, o jogador ajuda uma das lendas de alguma maneira. Essa lenda, então, o recompensa e indica quais são os próximos passos. Como todo RPG, as recompensas são para que o jogador personalize seu personagem. A medida que ele completa as missões, vai ganhando novos itens de roupas e também para o cenário. Com o andamento do game, cada jogador vai ter uma versão completamente diferente do personagem e do cenário”, adianta Túlio. Além da verba estadual, o projeto conta com o aporte de R$ 20 mil do Ministério da Cultura (MinC).

O terceiro classificado pelo Funcultura é um projeto da Daccord Music, empresa especializada em tecnologia musical, fundada pelo cientista da computação Giordano Cabral. Batizado de “Beatfy”, o game experimental para celular propõe que os usuários possam interagir de uma forma diferente com os serviços de streaming, como o Spotify e o Youtube.

“Além de ouvir as músicas e assistir aos videoclipes, as pessoas poderão jogar, tentando acertar eventos na tela, com uma sensação de ‘tocar junto’ com a música que está ouvindo”, afirma Rodrigo Pereira, diretor de inovação da startup.

A ideia nasceu de um antigo jogo da Daccord, chamado “VJ Nights”, lançado há alguns anos. Segundo Rodrigo, a proposta era parecida, mas ainda limitada pela tecnologia dos smartphones e das plataformas de conteúdo musical da época.

“O projeto tem uma base pronta. Além disso, está dentro da mesma linha de trabalho que estamos desenvolvendo em outras iniciativas. Tudo isso nos permite não partir da estaca zero, otimizar o investimento e inserir o jogo no mercado de forma mais rápida”, garante. Ainda de acordo com o CEO, é possível que o game esteja finalizado no prazo de seis meses.

Mais oportunidades – A inclusão de games no Funcultura Audiovisual veio a partir de uma demanda da Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames), que – desde ano passado – passou a fazer parte do conselho consultivo do edital. “Em outras chamadas públicas nacionais, o setor já era contemplado, devido ao boom desse mercado no Brasil. Acreditamos que, com investimento público, mais empreendedores terão a oportunidade de entrar nessa cadeia produtiva com competitividade”, aponta Mateus Araújo, assessor da coordenadoria de audiovisual da Secult-PE. Neste primeiro ano, o concurso recebeu 21 projetos inscritos.

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