Pelo debate

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Por Arthur Cunha

A principal razão de existir desta coluna é provocar o debate. Eu escrevo todo dia para colocar o dedo na ferida, abrir caixas-pretas e jogar luz no que está nas sombras. Não quero, de forma alguma, ser unanimidade. Nem poderia; meu papel aqui é o de ser inconveniente. Quero é incomodar mesmo; fazer jornalismo político sério. Este espaço é, sobretudo, opinativo. O que se publica é o resumo das minhas convicções, do que apuro, leio, ouço, vejo e vivo na minha vida profissional. Ontem, defendi o fim da aposentaria integral para o que chamei de “semideuses do serviço público”. Muita gente concordou; alguns servidores públicos, contudo, não. O debate nos grupos de WhatsApp que participo foi quente. Fui elogiado, criticado, encorajado – até de amargurado me chamaram. Faz parte. Li e respondi todas as avaliações. Apesar de não concordar com algumas poucas, respeito todas. E as quero ouvir sempre.

Mas abro mão de preservar amizades se o preço for me calar ou fazer vista grossa. Por isso, vou estender para a coluna de hoje o debate sobre o fim dos privilégios para servidores públicos – sejam eles concursados, comissionados ou eleitos. Essa pauta está na ordem do dia e “gera engajamento”, para usar um termo da moda. De antemão, já deixou claro que continuo sem concordar com aposentaria integral para qualquer categoria. E acho muito válida a sinalização do novo governo de debater a real necessidade de, por exemplo, um juiz de Direito incorporar, na aposentadoria, os penduricalhos do seu salário na ativa.

Em contraponto, tenho absoluta convicção de que, por terem um tipo de trabalho específico, militares, policiais e trabalhadores rurais têm de ser tratados de forma diferente dos que trabalham em escritórios ou em sala de aula. Antes que alguém grite: eu falei diferente e não com privilégios. O tempo de contribuição de um policial deve ser menor que o de um administrador. Não pelo policial ser melhor que administrador; mas pela natureza dos trabalhos, que são distintos. Isso ainda vale para um professor, cujo esforço físico também é enorme ao longo da carreira. Não dá medir com a mesma régua os diferentes. Feita essa pontuação, continuo – e repito! – contrário à manutenção da aposentadoria integral para qualquer carreira. E reafirmo minha crítica a quem entra no serviço público para se servir dele; e não para servir ao povo. São marajás, sim. E isso tem de acabar.

“Você sabe quanto desconta no meu contracheque todo mês?”, me questionou um servidor público em um grupo de WhatsApp, se esquecendo (ou não) que os tributos pagos por ele são exorbitantes, também, para quem trabalha no setor privado. Servidores públicos, funcionários e donos de empresas no Brasil pagam muitos impostos. Todos somos vítimas de um Estado (no sentido amplo da palavra) craque em arrecadar e ineficiente em realizar. Não vejo outra saída para solucionar esse absurdo que não uma reforma Tributária de verdade. Friso, para terminar, que tem gente decente em todo lugar. Ainda assim, gente decente não pode ter direito a privilégios, nem no público e nem no privado. A coletividade deve vir em primeiro lugar.

Ponderação – Já outro servidor de carreira me abordou para falar sobre a coluna. Na nossa conversa, ele me disse observar a existência de uma “corte” no serviço público com “privilégios em diversos níveis”. É justamente contra essa “corte” que me posiciono e luto. E tenho certeza que os que me abordaram no WhatsApp também. Para não ficar só no Judiciário, tenho uma visão de que parlamentar não deve tá receber aposentadoria. Político de carreira, apesar de existir aos montes, não deve ser profissão.

Bolsominion? – “Por isso lhe chamei de hipócrita”, disse outro (esse não é servidor público) porque elogiei a suposta disposição do novo governo de rever privilégios dos semideuses do serviço público na proposta de reforma previdenciária. Como se eu devesse só criticar ou só elogiar Bolsonaro. Graças a Deus (ou a Alá) que esse mundo não é uma dicotomia entre certo ou errado. Meu amigo, eu quero é ver esse Brasil bem, a economia crescendo, a sociedade se desenvolvendo; mais oportunidades, igualdade. Pouco me importa o partido ou ideologia que nos proporcione isso.

Só problema – Com pouco problema para resolver, convalescendo em um hospital, Jair Bolsonaro ganhou mais um imbróglio para administrar. Trata-se da doação de singelos R$ 400 mil para uma candidata à Câmara com apenas 274 votos em Pernambuco. Alguém conhece a ilustre senhora Maria de Lourdes Paixão? A oposição, lógico, acusou a legenda, presidida pelo pernambucano Luciano Bivar, de lavagem de dinheiro. Bivar, por sinal, ainda deu a infeliz declaração de que política não seria lugar para mulheres.

Viva Boechat! – Foi escrevendo esta coluna, falando da minha opção por fazer Jornalismo, que recebi a triste notícia da morte de Ricardo Boechat, um verdadeiro gigante da nossa profissão, vítima de um acidente de helicóptero. Boechat é uma das minhas maiores referências. Nunca perdeu a alma de repórter. Era talentoso, combativo, multifacetado, “furão” – um dos precursores da coluna neste formato que vocês estão lendo. Admirei ainda mais Boechat quando ele veio a público falar da sua luta contra a Depressão. Em tempos de uma crise sem precedentes na Imprensa brasileira, perde muito, mas muito mesmo, o Jornalismo.

Curtas

DIREITOS… – Ficou para hoje a decisão sobre quem vai presidir a Comissão de Direitos Humanos da Alepe. O acordo era para o posto ficar com as Juntas, mas a bancada evangélica quer Cleiton Collins. A reunião de instalação do colegiado será às 11h, quando o deputado e as codeputadas podem protagonizar o primeiro dos seus grandes embates desta Legislatura. Em tese, pelo perfil dos parlamentares da comissão, Collins teria mais votos em uma disputa.

… HUMANOS – Sem concorrência aparente, a esposa de Cleiton, a não menos polêmica Michele Collins, foi reconduzida à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal do Recife. Ela ficará à frente do colegiado pelo próximo biênio. Segundo a vereadora, 80% dos projetos de lei da Casa passam pela comissão. Lá, Ivan Moraes, o equivalente das Juntas, ficou apenas como vice-presidente.

BIPOLAR – O PSC da Assembleia Legislativa é um partido, digamos, bipolar. Dos cinco deputados da bancada, três são governistas (Antônio Fernando, Guilherme Uchoa Júnior e Wanderson Florêncio); e dois são da oposição (Clarissa Tércio e Manoel Ferreira). Ontem, Clarissa subiu à tribuna para criticar o governo. Já Wanderson fez um aparte no discurso da correligionária defendendo. Fiquei sem entender.

Pergunta não ofende: Vou pedir licença aos leitores para, ao invés de perguntar, afirmar neste espaço que, sim, 2019 já pode acabar!

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