Redes sociais viram protagonistas das eleições

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Os veículos tradicionais de comunicação perderam o protagonismo na guerra da informação da corrida presidencial deste ano. Cada vez mais presente na vida da sociedade, as redes sociais tomaram o centro da arena eleitoral, revertendo a lógica do jogo e frustrando as velhas estratégias do marketing político. Conhecida por seu poder de convencimento, a televisão (utilizada por 63% da população) foi uma das armas menos utilizadas pelo líder das pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), que dispõe de apenas 8 segundos de guia político. É nos seus 6 milhões de seguidores do Facebook e na legião de grupos adeptos do Whats App, um verdadeiro “ecossistema digital”, que Bolsonaro capturou as rédeas da corrida por votos.

“Franco atirador” contra as candidaturas presidenciais do PT e do PSL, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, quarto lugar nas pesquisas, não logrou êxito na sua estratégia, apesar de ter o maior tempo de rádio e televisão no horário eleitoral (6 minutos do total de 10 minutos do guia eleitoral).

Até pouco tempo, na “aurora” da influência da Web, a TV tinha um papel decisivo na campanha, vide a desconstrução sofrida por Marina Silva (Rede) em 2014, quando concorreu pelo PSB. A campanha da ex-presidente Dilma (PT) atacou pesadamente a proposta defendida por Marina de dar autonomia ao Banco Central, alegando que tal gesto “retiraria comida da mesa do trabalhador”, o que, na prática, surtiu efeito.

Por sua vez, na eleição atual, em que o tucano, detentor do maior tempo de guia chegou na última semana com apenas 7% nas pesquisas, segundo o Ibope, a impressão é de que as tendências se inverteram. Segundo a última pesquisa Datafolha, 40% dos eleitores acreditam que o horário eleitoral não tem “nenhuma importância”.

O dado mostra como a Internet consolida seu papel nas eleições. O Datafolha mostra que 68% dos eleitores possui alguma conta nas redes sociais e só o WhatsApp é utilizado por 66%, sem contar que 48% dos eleitores têm o costume de assistir vídeos sobre política na Web. Entre os eleitores que compartilham notícias sobre política brasileira e eleições no WhatsApp, 40% estão com Bolsonaro, 22% com Fernando Haddad (sem contar a comunidade em prol de Lula), enquanto Alckmin só angariou 13%. Para o pesquisador de Comunicação da UFES, Fábio Goveia, o alcance dos apoiadores do PT e do PSL constrói uma “blindagem” desses postulantes às intempéries da campanha – notícias negativas, como a delação de Palocci para o PT e as declarações do general Mourão para o PSL.

Fake news
Além do noticiário tradicional, há um fluxo de notícias falsas, tendenciosas ou distorcidas no íntimo dos grupos de redes sociais. O Instituto Ipsos aponta que, no Brasil, 62% das pessoas já acreditou que fake news eram verdadeiras. Já um estudo feito pelo CNDL/SPC indica que 75% da população receia que fake news influenciem suas opiniões e decisão de voto. Os números demonstram que o eleitorado brasileiro ainda não sabe lidar com a desinformação das redes sociais.

Segundo Goveia, Bolsonaro utilizou uma retórica do pânico para impulsionar seu crescimento pelo WhatsApp nos últimos dias, após as manifestações #EleNão – movimento de mulheres contra o candidato do PSL, que foi às ruas no último sábado. “Não há outra explicação, esse crescimento foi um ponto fora da curva e aconteceu no momento em que Haddad chegou ao topo da curva ascendente, o momento em que se consolidou a transferência de votos“, afirmou.

A performatividade do capitão da reserva, que protagoniza episódios controversos ao longo dos últimos quatro anos, lhe permitiu transbordar os limites da rede. “O voto em Bolsonaro é movido pelo like, pelo concordar. O ‘mito (termo utilizado pelos apoiadores de Bolsonaro para defini-lo) é uma figura’, é sincero, não tem medo de dizer aquilo que é tabu“, delimita o cientista político Miguel Lago, ao reconhecer que vivemos o momento da fusão da virtualidade com a realidade.

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