Veja o que o Museu Nacional guardava quando pegou fogo

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Uma tragédia anunciada destruiu parte da história brasileira junto com o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O fogo começou algumas horas após a saída dos últimos visitantes do domingo, 2 de setembro.Também em um dia 2 de setembro, porém de 1822, Maria Leopoldina, então princesa regente do Brasil por conta de uma ausência de Dom Pedro, assinou no prédio histórico de 200 anos o decreto da Independência, declarando o País separado de Portugal. O Grito do Ipiranga foi proclamado cinco dias depois às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo.

Subordinada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a instituição fica instalada no palacete imperial fundado por d. João 6º, em 6 de junho de 1818, e que também foi residência da família imperial brasileira. Mais antigo do Brasil e com acervo com mais de 20 milhões de peças, o museu passava por dificuldades financeiras geradas pelo corte em seu orçamento.

A historiadora Heloísa Starling lembrou que o início do Museu Nacional foi feito a partir da coleção da imperatriz Leopoldina. “Ela tinha um compromisso de ilustrar e fazer circular um conhecimento melhor sobre o Brasil. E vai fazer isso por meio da botânica e da zoologia. Ela mesma ia buscar as espécies”, conta.

Com seguidos cortes no orçamento, desde 2014 o museu não vem recebendo a verba de R$ 520 mil anuais para sua manutenção e apresentava sinais visíveis de má conservação, como paredes descascadas e fios elétricos expostos. A instituição não informou a extensão dos danos a seu acervo com perfil acadêmico e científico.

São coleções focadas em paleontologia, antropologia e etnologia biológica, entre outras. No local, eram guardados itens importantes como o meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no país, e uma coleção de múmias egípcias –inclusive o crânio de Luzia, a mulher mais antiga achada no Brasil. Além de coleções de vasos gregos e etruscos, e o primeiro dinossauro de grande porte já montado no Brasil.

Apesar de ainda não ser possível avaliar a extensão dos danos, a vice-diretora do Museu Nacional, Cristiana Serejo, afirmou que as coleções de invertebrados, que estavam em um anexo, foram preservadas, assim como a coleção de tipos de malacologia, área que estuda os moluscos. “A gente arrombou uma porta e conseguiu tirar algumas coisas lá de dentro”.

No mais, ela disse acreditar que praticamente todo o acervo foi destruído. “É um prejuízo incalculável para a ciência e para a história do Brasil. A história brasileira está sendo queimada”, lamentou o professor de geologia João Wagner Alencar Castro, funcionário da UFRJ que chegou ao museu por volta das 21h30 para acompanhar a contenção dos danos.

Em maio, 10 das 30 salas de exposição estavam fechadas, incluindo algumas das mais populares, como a que guarda um esqueleto de baleia jubarte e a do Maxakalisaurus topai –o dinoprata, primeiro dinossauro de grande porte já montado no Brasil. Para reabrir a sala, interditada havia cinco meses após um ataque de cupins, o museu armou uma campanha de financiamento coletivo na internet –e arrecadou R$ 58 mil, mais do que a meta de R$ 30 mil.

A decadência do prédio já era visível para os visitantes, que pagavam R$ 8 pelo ingresso. No bicentenário, a instituição celebrou com o BNDES um contrato de R$ 21,7 milhões para investir em restauração. Havia outra negociação milionária encaminhada para bancar uma grande exposição –a expectativa era de que cinco das principais salas fossem reabertas até 2019.

Em maio, Alexandre Kellner, diretor do museu, afirmou serem necessários R$ 300 milhões, ao longo de pelo menos uma década, para executar o Plano Diretor do museu. “A princesa Isabel brincava aqui, no jardim das princesas, que não está aberto ao público porque não tenho condições”, afirmou.

Exposições
As exposições do Museu Nacional eram organizadas em seções: Evolução da Vida (a história da Terra e dos primeiros seres que a povoaram), Nos Passos da Humanidade (a evolução do Homem), Culturas Mediterrâneas (arte e artefatos greco-romanos), Egito Antigo, Arqueologia Pré-colombiana (arte e artefatos dos povos que habitavam as Américas), Arqueologia Brasileira (onde se destaca Luzias), Etnologia Indígena Brasileira (a diversidade, a arte e o engenho dos índios brasileiros) e Culturas do Pacífico, além das diversas seções dedicadas à Zoologia.

Luzia
Um dos mais importantes itens era um fóssil humano, achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974. Batizado de Luzia, fazia parte da coleção de antropologia. Trata-se do fóssil de uma mulher que morreu entre 20 e 25 anos e seria a habitante mais atinga do Brasil.

Bendegó
Outra preciosidade era o maior meteorito já encontrado no País, chamado de Bendegó e pesa 5,36 toneladas. A pedra é de uma região do sistema solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem mais de 4 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, no sertão da Bahia, na localidade de Monte Santo. Quando foi encontrado era o segundo maior do mundo. A pedra integra a coleção do Museu Nacional desde 1888.

Múmias egípcias
Dom Pedro arrematou em 1826 a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria das peças veio da região de Tebas.

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