Vice de Marina Silva, Eduardo Jorge é pró-aborto e já criticou criação da Rede

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Com discurso de que se trata de uma aliança programática, o acordo firmado entre a Rede e o PV para tentar chegar ao Planalto esbarra em diferenças de posições sobre costumes e histórico de rusgas entre vice e candidata.

Oficializado como vice da pré-candidata da Rede, Marina Silva, o médico Eduardo Jorge (PV) diverge de sua cabeça de chapa em posições como a descriminalização do aborto e da maconha, e já criticou a saída de Marina do PV e a criação da Rede.

Deixar de considerar criminosas entre 700 e 800 mil mulheres que fazem aborto por ano é acabar com uma lei medieval em pleno século 21. É uma coisa inacreditável que o Brasil tenha uma lei machista e cruel como essa para punir mulheres que, por algum motivo, se submetem ao risco de procedimentos clandestinos“, afirmou ao jornal O Globo o então candidato verde ao Planalto, em 2014.

Marina, que é evangélica, é contra a descriminalização. A pré-candidata costuma dizer que qualquer mudança na lei atual -que permite o aborto em casos de estupro, anencefalia e risco de vida para a mãe- deve ser feita mediante um plebiscito.

Pesquisa Datafolha de janeiro mostrou que 57% dos brasileiros acreditam que a mulher deve ser punida e ir para a cadeia caso interrompa voluntariamente uma gravidez. “Por que alguém vai querer que, se 57% são contra, só 513 decidam?”, afirmou ela, questionada pela Folha de S.Paulo na quinta (2) se propor um plebiscito não é o mesmo que dizer que não mexerá nas regras atuais.

Em outro aspecto, o programa de governo de 2014 do agora vice defendia ainda a “imediata legalização” da maconha como ferramenta no combate ao tráfico de drogas e deixava clara sua posição de apoio ao casamento de pessoas do mesmo sexo, à adoção de crianças por casais homoafetivos e à criminalização da homofobia.

Do outro lado, a presidenciável foi criticada em 2014 por retirar de seu programa trechos que tratavam de questões LGBT, entre elas a promessa de articular a aprovação de leis que regulamentem o casamento gay e a criminalização da homofobia. O recuo levou a baixas na campanha da então pessebista, com a saída do secretário nacional do comitê LGBT do PSB, Luciano Freitas.

A presença de um defensor da legalização do aborto na chapa de Marina repercutiu mal entre o eleitorado evangélico. Nesta sexta-feira (3), um site de notícias gospel avaliava: “A escolha de Jorge colocará a presidenciável ainda mais distante da comunidade evangélica, por conta da defesa de pautas contrárias aos valores cristãos”.

Todo mundo sabe o que eu penso“, disse Eduardo Jorge à Folha nesta quinta-feira (2), após sua confirmação na chapa. “Minhas posições são claras. Estão no meu programa de governo de 2014 [quando concorreu à Presidência da República].”

Eduardo afirmou que eventuais divergências não prejudicam sua relação com Marina e que opiniões dela poderão prevalecer na candidatura. “É uma coligação em que ela é a cabeça de chapa. Nesses pontos em que há divergências, a gente respeita as posições da candidata”, disse o vice.

O desenvolvimento sustentável é citado por ambos os partidos como ponto de convergência. Segundo o ex-presidenciável, há uma “concordância programática de 90%” entre os dois. “As nossas chances de desafinar são mínimas.”

No entorno da ex-senadora, as desavenças também são minimizadas. A Rede diz que acolhe a diversidade internamente e que visões divergentes convivem na legenda.

O Eduardo Jorge não chega para trazer problemas. É uma pessoa que tem visões que estão dentro do nosso campo ético“, disse Jane Vilas Bôas, coordenadora de comunicação da sigla.

Segundo ela, a Rede tem outras pessoas que defendem as mesmas bandeiras do aliado. “Marina espera respeito ao pensamento dela e ela respeita o pensamento que não é o dela“, afirmou Jane.

Crítica
A relação entre Marina e Eduardo, porém, não foi sempre afinada. Correligionários na primeira disputa em 2010 e adversários em 2014, já trocaram farpas.

Em um debate na Band, na eleição passada, Eduardo chamou Marina de “magrinha”, instigando uma resposta da concorrente, que gravou um vídeo em que nega ser “magrinha ou fraquinha”.

Depois, o médico afirmou que se tratava de um elogio: “Eu fiz um elogio. A gente defende uma auditoria muito severa na dívida pública, que está oprimindo o nosso orçamento. Depois de examiná-la, ela vai ter outro peso, vai sair magrinha como a Marina e como eu. Talvez ela não tenha entendido”, disse, em atividade de campanha à época.

Em outro momento, à Folha de S.Paulo, ele criticou a saída da ex-senadora do PV e a criação da Rede Sustentabilidade. A sigla, à época, ainda não havia sido homologada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

“Eu acho que nunca tem bom futuro um partido à imagem e semelhança de uma pessoa”, disse. “A presença dela no PV ia ampliar bastante o partido, é preciso paciência”, afirmou, culpando um entorno “antipolítico” da candidata.

Por outro lado, Marina também não poupou o PV quando deixou a legenda e chegou a criticar o que chamou de “apetite do partido” por cargos. “Quatro ministérios pro PV… Caramba! Do jeito que tem gente aí, basta pensar num conselho de estatal, já estaria muito bom. Certo? Tem esse tipo de mentalidade”, ironizou ela em reunião, após oferta da campanha do então presidenciável José Serra (PSDB) de ceder quatro pastas ao partido em troca de apoio no segundo turno.

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