A falta de efetividade das políticas para o convívio com o Semi Árido levou as famílias a se manifestarem em Delmiro Gouveia

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Cerca de 350 famílias de agricultores organizadas no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram na manhã desta quarta-feira (30/05) uma manifestação que percorreu a cidade de Delmiro Gouveia (330km de Maceió), no Alto Sertão alagoano. Com paradas na Prefeitura Municipal, na Companhia de Abastecimento e Saneamento de Alagoas (Casal) e na Eletrobrás Distribuição Alagoas, os trabalhadores cobraram políticas de enfrentamento às consequências da estiagem que assola a região.
Em frente a Prefeitura, os manifestantes denunciaram irregularidades em obras do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), projetos operacionalizados pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e no abastecimento de água da cidade, que deixa de contemplar bairros inteiros. Segundo Luciano Carlos, da Direção Estadual do MST, “tem obra da Codevasf inacabada em assentamentos, outras concluída, mas sem água na torneira”.
Luciano se refere a obras executadas pelo órgão no Assentamento Picos, onde foi investido mais de R$ 300 mil, mas não tem água ainda para as famílias de agricultores, e no Assentamento José Elenilson, em que a obra está inacabada e os sertanejos têm que recorrer a carros-pipa. O MST denuncia que os maiores açudes do município, construídos pelo Dnocs, estão localizados dentro das terras do Prefeito Lula Cabeleira (PMDB), assim como outras obras milionárias como esta, ainda em execução.
O Canal do Sertão, promessa secular para“resolver o problema da seca” na região, é mais um exemplo. Das terras que beiram o trajeto do Canal no Sertão em direção ao Agreste, uma faixa é terra indígena e a outra é propriedade do Prefeito Lula Cabeleira. Também foi questionado o uso da água que vai circular no Canal, que já se especula servirá em grande escala para uma agroindústria privada de caprinos e ovinos ao invés de contemplar preferencialmente a agricultura familiar.
Os camponeses também fizeram a mobilização para resolver demandas na Eletrobrás Distribuição Alagoas, que indicou o recadastramento das famílias no programa de Tarifa Social da conta de energia elétrica. Os trabalhadores reclamaram de erros na contagem de energia, que tem atingido valores absurdos de R$ 700,00 em casas que possuem apenas um aparelho de TV. O Movimento foi recebido por representantes da empresa, quando alertou para o atraso na execução das fases do Luz Para Todos nos assentamentos.
A manifestação em Delmiro Gouveia faz parte de uma Jornada de Lutas realizada pelo MST em todo Nordeste para denunciar os grandes projetos, que não resolvem a situação calamitosa das famílias, e para cobrar políticas públicas que realmente cheguem às populações rurais mais pobres e nos assentamentos. A Jornada acontece num momento de estiagem histórica na região do Semi Árido, com mais de 700 municípios atingidos e cerca de 500 em estado de emergência.
Somente em Alagoas, 33 municípios decretaram estado de emergência, segundo boletim da Defesa Civil em Alagoas. A Associação dos Municípios de Alagoas (AMA) estima que já passam de 400 mil famílias atingidas pela seca, com um prejuízo que ultrapassa os R$ 52 milhões, envolvendo diversas áreas da economia. Mobilizando a indústria da seca ao invés de resoluções estruturais, o Governo Federal já tem contratado 2,6 mil carros-pipa em toda região Nordeste.

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