A maior “prova de fogo” da democracia

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A democracia brasileira passa por sua maior “prova de fogo”, neste domingo, desde que o País instituiu a redemocratização. É sintomático que, após quatro pleitos vencidos pelo PT, o antipetismo radical encarnado por Jair Bolsonaro (PSL) dê à votação um caráter plebiscitário, onde o eleitor é levado – por força da conjuntura – a optar entre dois projetos opostos.

Apesar dos 13 candidatos à Presidência da República – o maior número desde 1989 – essa eleição resultou polarizada entre o “candidato das redes”, Bolsonaro, e o candidato do ex-presidente Lula, Fernando Haddad (PT), numa separação nítida entre direita e esquerda.

Dessa forma, o acirramento vivenciado na campanha, especialmente nas redes sociais, põe em dúvida se o próximo presidente terá capacidade de governar. O cenário que levou Jair Bolsonaro à preferência de 35% das intenções de votos gera alarme na comunidade internacional, pois traz indícios de ameaça ao regime democrático.

Há elementos cruciais para montar o quebra-cabeça até a eleição de 2018, no qual a crise econômica – os 13 milhões de desempregados – parece dar o tom enérgico e urgente com que os presidenciáveis falaram durante os 52 dias de campanha. Além da recessão que aflige de perto as famílias brasileiras, o colapso do sistema político de representação também contribuiu sensivelmente para a formação da “tempestade perfeita”.

O impacto da Operação Lava Jato no PT e no PSDB produziram uma rejeição sistemática aos partidos e políticos tradicionais, fazendo o Brasil entrar na rota de países como EUA, França, Reino Unido e Turquia, onde soluções extremas entraram para o cardápio de parte expressiva da população.

Dilma e Aécio
A polarização de 2014, entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, que partiu o eleitorado quase ao meio, é diferente do que o País vive hoje. Na visão do cientista político Marcos Nobre, Bolsonaro tomou o lugar do PSDB para encarnar um antipetismo extremo, sem rabo preso, sem comprometimento com o sistema de “balcão de negócios” e ainda acoplando uma agenda liberal na economia, conservadora nos costumes, com viés autoritário, que ainda representa parte significativa do Brasil. Um projeto que, há quatro anos, soava insólito passou a ganhar corpo quando o economista Paulo Guedes – o “Posto Ipiranga” – se colocou como fiador da ideia.

Com o auxílio das redes sociais, ao modo do presidente americano Donald Trump, onde diz suas opiniões, que rapidamente viralizam, o capitão da reserva alcançou uma projeção inimaginável, relegando ao ocaso ferramentas consagradas da política, como o guia eleitoral na TV. Nem mesmo a facada que sofreu, no começo de setembro em Juiz de Fora (MG), forçando-o a ficar de fora de debates e da campanha de rua,  atrapalharam seu crescimento nas pesquisas.

Por outro lado, o PT, que havia perdido metade das prefeituras em 2016, no auge do impeachment da ex-presidente Dilma, entrou na narrativa da “volta por cima”, propagando o discurso de saudade da prosperidade experimentada nos governos Lula e se abraçou com o Nordeste para viabilizar a candidatura.

O ex-presidente inclusive encampou uma luta judicial para se colocar na disputa, mas parte da sociedade tinha noção de que a estratégia era transferir votos para Fernando Haddad e para isso, o PT precisava ser protagonista no campo da esquerda. Foi singular o ato de substituição da candidatura, na frente da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, no dia 11 de setembro. Em poucos dias o ex-ministro da Educação chegou ao segundo lugar.

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