Comissão de Meio Ambiente debate instalação de usinas nucleares em Pernambuco

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A proposta de implantação de seis usinas nucleares em Itacuruba, no Sertão de Itaparica, foi debatida em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Alepe nesta segunda. O município foi uma das áreas selecionadas no Plano Nacional de Energia 2030, lançado em 2007. O projeto da central em Itacuruba prevê investimento de 30 bilhões de dólares. O Governo Federal busca investidores privados, mas o modelo de participação ainda não foi definido.

O debate desta segunda reuniu representantes locais e técnicos críticos ao projeto. A cacique Cícera Cabral, do povo Pankará, lembrou que a região de Itacuruba já foi afetada por barragens que ocuparam terras de agricultores familiares, os quais perderam o sustento. Hoje o município apresenta altos índices de depressão e suicídio. “Esse projeto das hidrelétricas deixou vestígios, estamos pagando até hoje. A gente tem visto a construção dessa usina nuclear novamente como um grande projeto que vem pra iludir as pessoas em nome do desenvolvimento. Mas, no final das contas, a gente sabe que quem vai pagar vão ser as comunidades, os povos que vivem naquele território”. A antropóloga Vânia Fialho, da UFPE, identifica, só em Itacuruba, três povos indígenas e três comunidades quilombolas que poderiam ser afetados.

O físico e professor da UFPE, Heitor Scalambrine, observou que a energia nuclear representa apenas 1,2% da potência instalada no Brasil e, portanto, não é relevante para a matriz energética. Além disso, ele aponta os riscos e custos do empreendimento. “Do ponto de vista da engenharia, não existe risco zero. Ainda mais quando se pensa nesse complexo de usinas, seriam seis usinas até 2050, na beira do Rio São Francisco. Mais de 500 municípios, uma população de 20 milhões de habitantes. Cada usina é estimada em torno de cinco bilhões de dólares, o que representa, no câmbio atual, 20 bilhões de reais. Seis usinas, 120 bilhões de reais. Aí eu pergunto, por que não aplicar essa dinheirama toda na energia solar, na energia eólica, que trariam mais benefícios locais, com geração de emprego?” O professor ainda observou que o impacto da energia nuclear deve ser avaliado de forma abrangente, contemplando os custos tanto de implantação e desmonte da usina quanto do armazenamento de material radioativo por longos períodos.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alepe, deputado Wanderson Florêncio, do PSC, também demonstra preocupação com os impactos ambientais. “O que nós aqui queremos é que o investimento aconteça com outras fontes de energia, as energias renováveis, que é o grande potencial e vocação do Nordeste. Além de ser uma discussão econômica, ambiental e social, também é sim uma discussão ética. Será que é correto nós promovermos uma fonte de energia que vai deixar um lixo atômico durante dez mil anos para as próximas gerações tomarem conta?”.

Esta foi a segunda audiência pública realizada sobre o tema na Assembleia Legislativa. A primeira ouviu posições favoráveis ao projeto. Outros dois debates já estão previstos, um deles no município de Itacuruba. |Rádio Alepe|

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