Água que é bom não chega”, diz vizinha da transposição

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Sem chuvas há mais de dois meses, apesar das nuvens carregadas típicas do mês de maio, o município de Cabrobó, em Pernambuco, é um dos mais castigados pela seca que assola o semiárido nordestino. Ironicamente, fica na cidade uma das partes mais importantes das obras transposição do rio São Francisco, tida como a redenção para os martírios da estiagem.
A casa de Estelina Josefa da Silva, uma senhora bem articulada, fica a pouco mais de 20 quilômetros de onde será captada a água do Velho Chico. A dona de casa, contudo, não demonstra grande entusiasmo com o projeto. “A gente ouve falar, até porque um pessoal foi trabalhar pra lá, mas a água, que é bom, não chega”, queixou-se ela, que depende de carro pipa para beber água e tomar banho.
Em meio a uma série de percalços, o projeto avança em ritmo lento e é visto com desconfiança pelos sertanejos, até mesmo por aqueles que moram próximo das obras. De acordo com técnicos que acompanham as famílias do semiárido, a maior parte das pessoas da região sequer sabe da existência da transposição, que pelas projeções mais atualizadas não deve ficar pronta antes de 2015.
Enquanto isso, especialistas alertam para a necessidade de maiores investimentos em captação da água das chuvas, atividade que ainda é considerada incipiente. Dessa forma, eles argumentam, os sertanejos enfrentariam com menos transtornos os períodos de estiagem prolongada. “Água existe, o que falta é a captação e armazenagem”, reforça Diolando Santana, da ONG Caatinga.

“As pequenas ações espalhadas podem ser mais eficientes do que as grandes intervenções”, recomenda Antonio Barbosa, coordenador da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), organização que reúne entidades que atuam na região que mais sofre com a seca no país.

Responsável pelo Projeto 1 Milhão de Cisternas, que no ano passado correu o risco de ser descontinuado pelo governo, a ASA propaga semiárido adentro a ideia de que a pulverização dos pequenos e médios reservatórios é mais eficiente do que a grande obra da transposição do São Francisco. “Na seca não dá para trabalhar com média, com estatística. Tem que ser no micro”, analisa Barbosa.
A 250 quilômetros de Cabrobó, na cidade de Custódia, o canal por onde correrão as águas da transposição chegou às margens da BR-232, que liga o Recife ao interior pernambucano. Na beira da pista, sob um sol impiedoso, estava Claudio José Albino Bezerra, que deixou a função de servente de pedreiro para trabalhar no projeto, auxiliando as manobras dos caminhões.
Segundo ele, a frente de trabalho em Custódia ficou parada por oito meses até ser retomada, em setembro do ano passado. Ainda assim, Bezerra está cético quanto ao benefício prometido aos moradores da cidade. “Aqui o povo está esperando a água chegar. Dizem que em 2014 chega, mas acho difícil”, opinou.
O Ministério da Integração Nacional informa que 11 dos 16 lotes do projeto estão com andamento considerado satisfatório e cinco estão paralisados, sendo três por conta de rescisões contratuais. Cerca de 4,5 mil pessoas trabalham atualmente na obra e a expectativa do governo é que esse número suba para 6,5 mil até o fim do ano.
 Por De Cabrobó e Custódia (PE)

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