Página de 2018 virou e 2020 já é logo ali

0

É certo que ninguém quer tratar de uma nova eleição quando o processo da última acabou de fechar. Mas, apesar da resistência, não tem como negar o que as urnas mostram ao fim de cada campanha eleitoral. Na verdade, o eleitor ao depositar seu voto em um candidato dá a ele também confissões de sonhar com voos mais altos. Em Pernambuco, alguns nomes conseguiram despontar em números de votos para obter, digamos assim, o credenciamento antecipado de seus respectivos partidos para concorrer à Prefeitura do Recife em 2020. A escola, vale a pena ressaltar, dependerá da conjuntura política que será desenhada a partir da definição da sucessão presidencial e os arranjos partidários no âmbito local.

No cenário definido no primeiro turno no estado, o engenheiro João Campos (PSB), 24 anos, um estreante em disputas eleitorais, conquistou mais de 400 mil votos. Filho do ex-governador Eduardo Campos e bisneto do ex-governador Miguel Arraes, ele evita falar de um futuro que não esteja ligado ao mandato que irá exercer na Câmara a partir de 2019. João foi eleito com o apoio majoritário do partido, mas não está sozinho na lista de nomes cogitados para disputar o cargo de prefeito pelo PSB. O deputado federal reeleito Felipe Carreras (PSB) alimenta o sonho de ser candidato, um sentimento o parlamentar demonstra há algum tempo.

Durante a campanha, comentários de bastidores davam conta que, devido o apoio irrestrito da cúpula do PSB a João Campos, o deputado teria perdido bases ligadas ao prefeito Geraldo Julio, que, na eleição de 2014, garantiram o bom desempenho do auxiliar (na época secretário municipal de Turismo) no Recife, onde Carreras foi o mais votado entre os candidatos a deputado federal. Mesmo sem contar com o suporte dos líderes socialistas, o parlamentar teve uma votação bem próxima de João Campos na capital. Ele obteve 8,41% (67.244 votos), enquanto Campos teve 8,86% (70.864). Outro nome que pode ser puxado pelo PSB para disputa municipal é a delegada Gleide  Ângelo, eleita deputada estadual com uma votação surpreendente (412.636 votos). No caso dela, a ideia é eleição em Jaboatão dos Guararapes ou Olinda, onde Gleide teve um bom desempenho nas urnas.

No campo oposicionista, a vereadora Marília Arraes (PT) conquistou o segundo lugar na disputa para deputado federal. Preferida na campanha estadual, em razão do acordo entre PT e PSB em favor de Paulo Câmara (PSB), a petista também aparece como um nome para concorrer à Prefeitura do Recife. A indicação dela, no entanto, depende dos desdobramentos da aliança PT/PSB. Se a parceria for mantida, Marília, provavelmente, terá que sair do partido e procurar outra legenda que abrace seu projeto majoritário. Procurada  para falar sobre o assunto, a vereadora afirmou por meio de sua assessoria, que não trataria de disputas futuras e, neste momento, seu objetivo é de “encarar com responsabilidade o mandato para o qual fomos eleitos“.

O deputado federal Bruno Araújo (PSDB), candidato ao Senado na chapa de Armando Monteiro (PTB), avaliou que, após o resultado das eleições, seu partido precisa primeiro olhar internamente para “se reencontrar e se reinventar”. “Para nós, foi um grande impacto. O eleitor reduziu o PSDB à metade“, avaliou. Mesmo diante desse quadro, o tucano afirmou que a legenda deve se preparar para projetos majoritários. “Temos dois anos para cuidar disso“, frisou.

Bruno ficou em quarto lugar na disputa pelo Senado e obteve no Recife uma votação que poderá levá-lo à disputa de prefeito em 2020. Os votos representam um ativo que, segundo o deputado, ficará guardado para ser usado no futuro.

Futuro depende do desfecho dos próximos capítulos
Ao comentar um provável cenário para eleição municipal de 2020, o cientista político Arthur Leandro, do observatório do Poder, faz uma análise da disputa estadual que foi encerrada no domingo passado com a reeleição do governador Paulo Câmara (PSB). Ele lembra que a campanha local teve uma relação direta com a eleição presidencial e os desdobramentos para daqui a dois anos serão definidos a partir das acomodações políticas do novo governo federal (Fernando Haddad/PT ou Jair Bolsonaro/PSL), e da continuidade da gestão socialista no estado.

Então, são duas coisas que precisamos observar: o que vai acontecer no dia 28 (segundo turno das eleições) e o surgimento de novas caras a partir dessa eleição (estadual). João Campos (PSB) teve uma votação excepcional, contando com o apoio da máquina, e isso provocou um desgaste interno com Felipe Carreras, por exemplo“, comenta.

Além disso, Artir lembra a surpreendente eleição da delegada Gleide Angelo (PSB), que obteve 412.636 mil votos e conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa. “Vamos acompanhar como o partido (PSB) vai administrar isso“, observa Arthur. De acordo com o cientista político, o deputado federal eleito Luciano Bivar (PSL) também é um nome que poderá entrar na lista dos prefeituráveis ou ser o patrono de uma candidatura. Aliado de Bolsonaro, Bivar obteve 117.943 votos, chegando em sétimo lugar entre os postulantes à Câmara dos Deputados. Arthur Leandro, inclusive, considera um erro de estratégia para o PRP ter retirado a candidatura do Coronel Luiz Meira ao governo do estado.

O partido perdeu uma oportunidade de ouro. O coronel Meira poderia repetir o que está acontecendo com o Bolsonaro, mas o PRB achou que seria melhor lançá-lo para deputado e acabou que a eleição dele não aconteceu. Na campanha estadual, ele seria o governador de Bolsonaro e poderia, acredito eu, chegar ao segundo turno, podendo ser uma ameaça maior para a vitória de Paulo Câmara no primeiro turno, que foi bastante apertada para Armando Monteiro“, avalia. Arthur alerta para o fato, inclusive, de que hoje as pessoas que votam com a direita representam uma parcela considerável do eleitorado. “Há 20 anos, todo mundo era de esquerda. Hoje a direita está forte também“, observa, referindo-se ao avanço dos candidatos que disputaram a eleição por partidos da direita.

Sobre o papel da oposição, que na eleição estadual foi representada mais de perto pelo palanque liderado pelo senador Armando Monteiro (PTB), que ficou em segundo lugar na disputa, Arthur Leandro destaca que o grupo não teve oportunidade de dar “salto” para o lado da direita. Até porque, ainda na condição de pré-candidato, Armando, Paulo Câmara e Marília Arraes (PT) se apresentaram como nomes de Lula (PT).

Já em relação a um possível projeto majoritário de Marília Arraes, o cientista político ressalta que ela terá de analisar uma série de fatos. O principal deles tem a ver com os atritos dela com a executiva nacional do partido e com o líder local da legenda, o senador Humberto Costa (PT).

DEIXE UMA RESPOSTA

Comentar
Seu nome