Bolsonaro, Michelle, Cid, Wassef: PF ouve oito pessoas sobre suposto esquema de venda de presentes

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Em depoimentos simultâneos, o ex-presidente Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle e outras seis pessoas ligadas a eles vão ser ouvidos nesta quinta-feira pela Polícia Federal sobre um suposto esquema de venda de presentes oficiais, como relógios e joias, no exterior.

A estratégia dos investigadores é que cada um deponha separadamente, a partir das 11h, numa forma de tentar evitar combinações de versões. É a quinta vez que o ex-presidente será ouvido nos últimos quatro meses.

Também serão interrogados o ex-chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, o pai dele, general Mauro Cesar Lourena Cid, o advogado Frederick Wassef, o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten e os assessores Marcelo Costa Câmara e Osmar Crivelatti.

Os depoimentos de hoje serão realizados em um contexto diferente das outras vezes: desde a semana passada, Mauro Cid passou a responder os questionamentos da PF e colaborar com a investigação. Na sexta e na segunda-feira passadas, o ex-ajudante de ordens esteve na sede da corporação por cerca de 16 horas. A mudança na estratégia de defesa de Cid ocorreu após o advogado Cezar Bitencourt assumir o caso.

Na avaliação dos investigadores, a apuração sobre a venda de presentes oficiais dados a Bolsonaro por autoridades estrangeiras é a que está em estágio mais avançado e a que reúne o maior número de indícios da prática de crimes, como trocas de mensagem, fotos e até recibos de venda e de recompra dos itens valiosos.

Os elementos foram obtidos pela PF por meio de quebras de sigilo telefônico e telemático e buscas e apreensões autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Os delegados que tomarão os oito depoimentos hoje agora querem ouvir a versão a respeito do que foi encontrado.

Frederick Wassef

Wassef, que representou a família Bolsonaro em uma série de processos judiciais, será questionado sobre a recompra de um relógio Rolex, em março deste ano. Segundo a PF, o item havia sido vendido por Cid a uma loja da Pensilvânia, nos Estados Unidos, em junho de 2022, e foi recomprado pelo advogado em março deste ano para que pudesse ser devolvido ao poder público conforme determinação do Tribunal de Contas da União (TCU).

Quando a suspeita veio a público, Wassef inicialmente afirmou que não havia vendido relógio algum e que era alvo de fake news. Depois, confrontado com um recibo em nome dele, o advogado admitiu que comprou o Rolex para entregá-lo ao TCU, mas negou que tenha recebido ordens de Bolsonaro e sustentou que pagou com dinheiro próprio.

Além do Rolex, de acordo com a investigação, Cid vendeu à loja da Pensilvânia um relógio da marca suíça Patek Philippe. Pelos dois itens ele recebeu US$ 68 mil, segundo o inquérito. O Rolex teria sido recomprado porque estava catalogado como parte do acervo privado de Bolsonaro e, por isso, o TCU sabia de sua existência. Já o Patek Philippe não foi registrado no acervo e não foi recomprado, ainda de acordo com a PF. O paradeiro desse relógio é desconhecido.

Fabio Wajngarten

Wajngarten também deve ser questionado sobre a recompra do Rolex. Ele apareceu em uma troca de mensagens com Cid, de março deste ano, lamentando que a pessoa escolhida para recuperar o relógio tivesse sido Wassef.

Marcelo Câmara

Câmara, que é coronel da reserva, deve explicar à PF o contexto de mensagens que trocou com Cid no período em que acompanhou Bolsonaro em sua temporada nos EUA, do final de dezembro passado até março deste ano.

Lourena Cid

Numa dessas conversas, Cid contou a Câmara que seu pai, o general Lourena Cid, estava com US$ 25 mil que precisavam ser entregues a Bolsonaro. Câmara e Cid então concluem que era melhor que a entrega fosse feita em dinheiro vivo, sem utilizar o sistema bancário.

Câmara também é o responsável legal pelo acervo de 9.158 presentes dados a Bolsonaro por autoridades estrangeiras. Ele e o outro assessor que será ouvido, Crivelatti, são os servidores que têm acesso às peças do acervo que estão guardadas na Fazenda Piquet, em Brasília. A fazenda pertence ao ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, aliado de Bolsonaro.

Quinto depoimento

Desde que deixou a Presidência, Bolsonaro já prestou quatro depoimentos à PF em investigações distintas. O primeiro deles, em abril, foi sobre um kit de joias dado pela Arábia Saudita que acabou barrado por agentes da Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos (SP) quando um assessor do ex-ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia, tentou entrar no país sem declarar os itens. Àquele altura, o suposto esquema de vendas dos presentes era desconhecido.

Bolsonaro também já foi ouvido na investigação sobre supostas fraudes em cartões de vacinação — caso que levou Mauro Cid à prisão, no início de maio —, sobre os atos golpistas de 8 de janeiro e sobre as declarações do senador Marcos do Val (Podemos-ES) de que havia um plano para grampear ilegalmente o ministro Moraes para contestar o resultado das eleições.

Em todos os casos, a defesa do ex-presidente nega que ele tenha praticado crimes.

Fonte: O Globo

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