Como a propaganda política, ESG e tabus podem aproximar ou afastar eleitores?

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Antônio Ribeiro Junior*

A rede de fast food Burguer King divulgou uma nova propaganda com a participação do ator de filme adulto, Kid Bengala. O personagem é conhecido por motivos que se faz necessário detalhar. Na Internet, diversos consumidores têm criticado a peça publicitária pelo seu conteúdo erótico. Em época de maniqueísmo, entre o bem e o mal, a família e degenerados, a multinacional pode ter projetado uma sátira e recebido uma crise de imagem.

No começo do ano, um determinado grupo político, com ideologias de proteção à família e aos bons costumes (ainda que não se sabia quais sejam esses valores), promoveu campanha na rede mundial de computadores contra o filme nacional ‘Minha irmã é Eu’ que, segundo esse grupo, seria composto por atrizes que apoiavam ideologias distintas das suas. Esse comportamento se refere ao novo fenômeno das redes sociais chamado de cancelamento.

O caso do filme é um exemplo que deve pautar as políticas de comunicação das empresas, em tempos de dualismo social, cultural, religioso ou político. Na verdade, as empresas devem avaliar se o conteúdo de peças publicitárias terá o poder de aglutinar o maior número de consumidores ou se inserem na linha tênue da divisão social por qualquer que seja o fator.

O Burguer King, ao divulgar a nova propaganda, pode estar apostando em um política de maior inclusão com temas sensíveis. Ou, depois das críticas, passa a torcer, agora, para que a exposição por motivos inicialmente não planejados possa potencializar as vendas e a marca.

O tema sobre o tratamento de assunto sensível é um dos vetores da política de integridade (Compliance). A repercussão de conteúdos divulgados e que são considerados delicados em razão de valores culturais são disciplinados na política de ESG, ou seja, governança, sustentabilidade e meio ambiente.

É certo que cabe à sociedade civil organizada debater os tabus que ainda circunvizinham a sociedade brasileira como, por exemplo, a sexualidade. Porém, há a necessidade de um cuidado para não cair em desgraça no novo mundo em que a imagem é fator determinante para a valoração do capital empresarial das corporações. Agora, com a palavra o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que regula ações publicitárias e indica o que pode ou não ser apresentado.

*Antônio Ribeiro Júnior é consultor jurídico, especialista em direito eleitoral, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (ABRADEP), advogado na área de Direito Público, sócio do escritório Herculano & Ribeiro Advocacia, além de professor, autor de artigos jurídicos.

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