Padre Beto – O Excomungado pela Igreja Católica

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Roberto Francisco Daniel, o padre Beto, foi excomungado por pregar ideias humanistas cria a “Humanidade Livre”, igreja que segue apenas os ensinamentos de Jesus.

QUEM É PADRE BETO?

Padre Beto (Roberto Francisco Daniel), bauruense, nascido em 1965. Formado em Radialismo (SENAC-SP), em Direito pela Instituição Toledo de Ensino (Bauru), em História pela Universidade do Sagrado Coração (Bauru) e em Teologia pela Universidade Estadual Ludwig-Maximilian de Munique, Alemanha. Nesta última concluiu seu doutorado em Ética. Foi ordenado Padre pela Igreja Católica em Bauru no ano de 1998.

Exerceu o ministério de sacerdote na Diocese de Bauru por 14 anos. Professor de Filosofia da Faculdade de Direito (ITE), professor de Filosofia nos Cursos de Direito, Administração e Magistério da Unip-Bauru. Ministrou aulas de Filosofia para o ensino médio e cursinhos.

Por cinco anos foi apresentador da rádio 96 FM Bauru. Durante nove anos foi cronista do Jornal da Cidade (Bauru) e logo após escreveu para o Jornal Bom Dia (Bauru). Foi apresentador da “Mensagem do Dia” na 94 FM (Bauru) e apresentador do programa “Tema Livre” na mesma rádio. Também apresentou o programa “Espaço Aberto” pela Auri Verde AM Bauru, aos Domingos das 22h a Meia Noite. Atualmente é cronista de vários jornais. Autor de diversos livros sendo dois em língua alemã. O ultimo livro publicado foi “Coragem para Pensar Diferente”. Em 2013 recebeu o Prêmio “Rio Sem Preconceito”, que homenageia personalidades que de alguma forma contribuíram na luta contra a discriminação no país.

A Excomunhão

Depois de atuar por 14 anos na Igreja Católica, o padre Roberto Francisco Daniel, mais conhecido como padre Beto, renunciou ao sacerdócio e acabou por ter sua excomunhão decretada. Tudo aconteceu após declarações registradas num vídeo publicado no Youtube, onde o padre aborda e questiona temas relacionados à moral e fala com aceitação sobre assuntos como bissexualidade e homossexualidade.

O Vaticano ratificou a decisão da excomunhão dado pelo bispo de Bauru em novembro de 2014, mas até hoje, padre Beto diz não ter recebido nenhum comunicado. “É incrível, mas até hoje não recebi nenhuma comunicação oficial. Eu soube pela imprensa apenas”, comenta o religioso.

O religioso se afastou da igreja em abril de 2013, após ser repreendido pela diocese local por declarações publicadas na internet. Em redes sociais ele contestou os princípios morais conservadores da igreja e opinou sobre assuntos considerados polêmicos como homossexualidade e infidelidade. Por

não se retratar publicamente, como determinou o bispo de Bauru, ele foi excomungado.

Desde então, padre Beto continua a desenvolver atividades pastorais – missas, casamentos e atendimentos. O diferencial é que, no caso dos casamentos, por exemplo, ele tem realizado cerimônias entre pessoas divorciadas e do mesmo sexo, o que seria impossível de se imaginar na Igreja Católica.

Com pensamentos progressistas e humanitários, padre Beto defende uma revisão na moral sexual da Igreja Católica. Segundo ele, há que se considerarem questões como métodos contraceptivos, masturbação e diversidade sexual.

“A moral sexual da igreja como um todo precisa ser revisada, pois está muito defasada. A igreja precisa discutir sobre esses assuntos, pois da maneira que está gera hipocrisia. Um exemplo básico é que as maiorias dos casais usam anticoncepcionais, camisinha, fazem vasectomia, mas frequentam a igreja e fingem usar o método Billings (tabelinha), que é pregado pelos padres. Os jovens também já começam a sexualidade com culpa, através da masturbação, ato que a Igreja Católica considera individualista e pecaminoso”, diz.

Poucos sabem, mas a excomunhão não tira o título de padre de alguém. E por isso mesmo tendo sido excomungado, ele continua sendo padre, até mesmo perante a Igreja Católica.

“Tornei-me um padre excluído, mas continuo sendo padre”. Eu me sinto padre, não tem como mudar isso. Banido, mas eu sou um sacerdote. Isso oficialmente, para Igreja Católica. Existe o processo de secularização. Eles (o Vaticano) podem abrir um processo desse e para a Igreja Católica eu deixo de ser padre mesmo, eu volto ao estado laico. Por enquanto eu sou um padre, só que um padre excomungado. O pessoal usa o ex-padre talvez por não entender a excomunhão, o que ela é. Eu espero agora com a criação da Humanidade Livre espero que o pessoal fale “ele é um padre da Humanidade Livre”, explica padre Beto.

Missas alternativas

Depois da excomunhão, padre Beto não sabia exatamente o queria fazer. Com muitos casamentos agendados, ele começou a desmarcar. Mas foi em vão. “Eu tinha um número de agendamentos de casamentos muito grande, então eu comecei a desmarcar muitos casamentos, mas aí muitos casais começaram a responder pra mim que agora eles fariam questão de que eu celebrasse os seus casamentos”, explica o padre.

Cinco meses após celebrar a primeira missa alternativa em um ginásio poliesportivo na cidade de Bauru, no interior de São Paulo, padre Beto anunciou a criação da igreja “Humanidade Livre”. Com o slogan “acreditar em Deus é o que nos une”, a nova denominação, identificada com a teologia da libertação, prega o amor sem preconceito de raça, sexualidade ou estilo de vida.

A missa alternativa tem sido acompanhada por um público de 400 pessoas, e segue os ritos da celebração tradicional da Igreja Católica, como a realização de primeira e segunda leitura, a consagração e distribuição da hóstia. Mas deixou de fora alguns ritos que só existem na celebração católica: a leitura do salmo responsarial e a profissão de fé, por exemplo. “A celebração já é a profissão de fé”, explicou.

Os músicos deixaram de lado as canções tradicionais religiosas e entoaram músicas populares como “Tempos Modernos” e “Toda Forma de Amor”, de Lulu Santos, entre outras.

Humanidade Livre

“A Humanidade Livre nasceu sem dogmas, preceitos, doutrinas ou regras morais e será sempre assim. É apenas um lugar onde todo ser humano possa se encontrar e seguir a Jesus Cristo praticando a sua fé”, afirma padre Beto. antes de iniciar a celebração.

“Procuramos um local diferente dos salões que abrigam as igrejas, algo alternativo, descontraído, sem padronização alguma, mas com cara de família, algo aconchegante”, explica o padre Beto.

As celebrações realizadas pelo padre Beto têm arrebatado muitos seguidores, tanto que a Diocese do Divino Espirito Santo de Bauru, prevendo a criação de uma nova igreja pelo religioso, pediu para que seus fiéis não frequentassem e nem participassem de possíveis “atos de cultos” realizados por ele. Apesar da recomendação, alguns católicos continuaram a ir ao culto.

Com a Humanidade Livre abrindo as portas de sua sede em Bauru, padre Beto resolveu cutucar o comando da Igreja Católica local através da edição de um informativo interno ao responder a pergunta de como surgiu a Humanidade Livre: “A Humanidade Livre surgiu de uma excomunhão. Nós somos consequência das decisões tomadas pelos responsáveis da Diocese de Bauru, pois graças a eles tivemos a liberdade para criar algo novo. Por isso queremos agradecer ao bispo da Diocese de Bauru e aos padres do alto clero. Não podendo mais servir a Deus na Igreja Católica resolvi criar uma nova igreja, ou melhor, resolvi criar uma nova proposta de igreja: a Humanidade Livre”.

Futuro da Humanidade Livre

Antes mesmo de inaugurar a sede da Humanidade Livre, o padre Beto viajou para o nordeste brasileiro com a intenção de discutir a abertura de igrejas por lá. Feira de Santana (BA) e Recife (PE) podem ser as primeiras cidades a receber a Humanidade Livre.

“Esse processo é lento, mas temos conversado com outros padres que também foram excluídos pela Igreja Católica para a implantação da nossa igreja nesses locais,”, afirmou.

Padre Beto diz acreditar que o mais importante já foi feito, o lançamento de uma religião sem preconceitos e doutrinas. De acordo com ele a expansão será natural, assim como a aceitação.

“Por isso decidimos abrir as portas da Humanidade Livre mesmo ela ainda estando em reforma. Para que as pessoas incorporem essa ideia de que a nossa igreja cresce se fortalece a cada novo dia.”

Documentário ‘O Excomungado’ leva prêmio nos EUA

O bauruense Alex Ferreira conquistou um prêmio inédito para o Brasil: o documentário “O Excomungado” venceu o RNA 2015 Documentaries Contest, um dos concursos mais tradicionais e importantes dos Estados Unidos.

Nunca um brasileiro tinha ficado entre os dez finalistas deste prêmio, que está em sua 66ª edição. O filme conta a história de Roberto Francisco Daniel, o padre Beto, excomungado pela Igreja Católica em 2013.

O curta, que tem 30 minutos, foi filmado em Bauru, montado e sonorizado pela DocFilms, em Curitiba, produtora brasileira voltado ao mercado internacional. .

No site “Curta o curta” (curtaocurta.com.br), Alex contou que irá aproveitar a estadia nos EUA, para gravar cenas do seu próximo documentário, “As Vozes de Deus”, que tem o apoio institucional da IHEU, organização Britânica filiada à ONU, com 63 anos de atendimento à populações vítimas de conflitos religiosos no mundo.

Marcos Augusto de Freitas/Assessor de Imprensa

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