Um barco e os ventos que sopram daqui

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12002077_959223197483810_4045166288511734555_nCarlos Laerte

Um drama em três atos, escrito em 1945, pelo dramaturgo espanhol Alejandro Casona, ganhou às telonas no Vale do São Francisco na forma de um amor, uma vida e um pesadelo. O filme Barco sem Pescador, todo produzido na região com gente daqui e dirigido por Hertz Felix é um verdadeiro “copo d’água” nestes tempos de crise hídrica, política e econômica.  Concebido no formato Full HD, com 36 minutos e 21 segundos, este média – metragem, que tem a direção de fotografia assinada por Ailton Nery, impacta, logo à primeira vista, com um festival de bonitas imagens do rio São Francisco, ao som do Boato Ribeirinho, música de Nilton Freitas, Wilson Freitas e Wilson Duarte.

Depois, uma trama bem enredada, em meio ao cotidiano de pescadores da ilha do Massangano, vai revelando desejos secretos e pactos difíceis de se cumprir. Um enigmático exportador de frutas Ricardo Jordão (Elder Ferrari), se entrega a tentação do demônio afim de recuperar sua fortuna, ao preço da morte de um pescador desconhecido. A viúva Estela (Kátia Gonçalves), vive o dilema da perda do pescador assassinado em um acidente misterioso e do próprio medo da morte do rio. E neste universo multifacetado, onde emergem paixões mal escondidas e peculiaridades culturais de uma gente meio terra, metade água, a película segue seu destino de peixe: varejando em mínimas condições técnicas para depois navegar, a todo vapor, numa entrega total de um elenco determinado.

A vida dos ribeirinhos, marolas e maretas vão se misturando neste meio liquido e pantanoso, que emociona e também faz rir, como nas tiradas engraçadas da personagem vivida pela atriz Rosália Costa. Fazem parte ainda do elenco Yonara Santos, Ivo Lancelote e Flávio Angelo. Todos artistas das mesmas margens. A trilha sonora surpreende ainda com uma canção de Zé Manoel e a bela voz de Joyce Guirra. O figurino é de Carmem Lúcia Rodrigues, direção de arte, Ivo Lanceloti, operador de áudio, Herbert Gonçalves e finalização, Semário Andrade.

O média-metragem, que vai fazer parte do projeto Cinema na Praça, a ser exibido a partir de janeiro do ano que vem em comunidades de distritos e bairros de várias cidades da região, foi filmado em 48 horas, segundo o roteirista e diretor Hertz Felix. Certamente um recorde que chamou a atenção, e muito, do público que foi ao Centro de Cultura João Gilberto, no último dia 22 de novembro, conferir o lançamento de Barco sem Pescador e também do filme Ryan, dirigido por Marcos Velasch.

Mas, em se tratando de Hertz Félix, não é nenhuma surpresa. Com um currículo, que traz na bagagem, nada menos que 71 peças teatrais, 11 radionovelas, 13 filmes, 2 telenovelas e a participação na Minissérie da Rede Globo Amores Roubados, este artista pode muito mais. Nascido em São Paulo – SP, em 1962, ele veio para a Bahia em 1969 para morar no distrito de Pinhões, município de Juazeiro. Com o histórico de ter visto o primeiro filme na vida em 1974 – um Western Bang Bang no Cine São Francisco, Hertz Felix teve seu primeiro alumbramento cinematográfico, quando de volta a São Paulo, conheceu o cineasta Tony Vieira.

Depois de dois anos, fazendo pontas como ator, continuísta e assistente de produção, Hertz fez um curso de elaboração de roteiros para cinema e televisão com o já reconhecido homem de TV Doc Comparato. Ainda na capital paulista, trabalhou como ator nas novelas Meus Filhos, Minha Vida e Jerônimo, o Herói do Sertão, no SBT, e voltou a Juazeiro em meados de 1978, onde posteriormente  dirigiu os filmes Bravios do Sertão – Volúpia – Perfídia – Seara Prometida – Açúcar Amargo e Irmãos Quixaba.É assim, para o cineasta que se descobriu, ainda criança, vendo a própria imagem refletida em sombra na parede, construir um teatro em Juazeiro parece ser um sonho possível. Vamos sonhar juntos.

Carlos Laerte é poeta, jornalista e diretor da Clas Comunicação & Marketing.

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